Um ano depois, frieza do Fla escancara falta de humanidade
Clube sempre pensou que resolver a tragédia do Ninho do Urubu era tratar pendências burocráticas. E sempre foi cuidar das pessoas
A tragédia do Ninho do Urubu completa um ano neste sábado. Há 365 dias o Flamengo devolveu 10 meninos a seus familiares em um caixão lacrado, após o incêndio em seu centro de treinamento. É o fato objetivo. É responsabilidade do Flamengo, independentemente de culpa ou dolo. Um evento devastadoramente triste por si só, mas que fica ainda mais lamentável ao vermos a postura do Flamengo desde então.
Tudo que ocorreu desde que o Flamengo negou a sugestão do Ministério Público de pagar 2 milhões de reais como indenização, dias após a tragédia, deixam claro que o clube entendeu e entende que esse é um caso jurídico comum, que é conduzido pelos advogados envolvidos, em que vale a pena barganhar alguns mil reais. Não é. Nunca foi. De lá para cá, foram várias posturas em que o juridiquês suplantou a empatia, o bom senso e a humanidade.
Abrindo um parênteses no tempo, imaginem como tudo seria diferente se o Flamengo tivesse aceitado essa recomendação do MP. Imagino que tivesse fechado com mais famílias do que as atuais. E, principalmente, teria a seu favor um discurso importante: “eu concordei com o que o MP acha razoável. Só não fechei com todas porque as famílias não aceitaram o que o MP propôs.”. Repararam como a imagem do clube seria outra?
Há alguns dias, o Flamengo fez uma pseudo-entrevista para finalmente falar sobre o caso (além de tudo, o clube sempre se comunicou muito mal sobre a tragédia neste um ano). Na “autoentrevista” estavam o presidente, o vice-presidente jurídico e o CEO do clube. Não havia nenhum assistente social, nenhuma pessoa liga a recursos humanos, ninguém orientado a cuidar de humanizar a tragédia. Diz muito de como o clube pensa tudo o que aconteceu.
Todas as vezes que os familiares envolvidos na tragédia falam sobre o relacionamento com o Flamengo, reclamam da falta de carinho, respeito, atenção e bom senso no trato com eles, independentemente do dinheiro, de já ter pago ou não a indenização. Porque está claro que o Flamengo entende que resolver a questão é acertar todas a burocracia. Também é. Mas resolver tudo sempre foi cuidar das pessoas. Nisso a postura do Flamengo, via seus dirigentes, sempre foi lamentável.