EXCLUSIVO: Com campeonato encerrado, saiba como o PSG monitora jogadores à distância
Chefe do departamento de prevenção e performance do Paris Saint-Germain, Bruno Mazziotti atualiza forma física de Neymar e detalhou como funciona a preparação física dos atletas nesse contexto tão diferente
Por Redação do Esporte Interativo
Já campeão francês e sem previsão de retorno das atividades no CT por conta da pandemia do novo coronavírus, o Paris Saint-Germain conta com um protocolo de atividades e monitoramento à distância para acompanhar os atletas com treinos, alimentação e até controle do sono.
Em entrevista exclusiva ao Esporte interativo, Bruno Mazziotti, chefe do departamento de prevenção e performance do PSG, explica como é o trabalho e a dificuldade de lidar com jogadores espalhados pela América (Neymar, Thiago Silva, Keylor Navas, Cavani) e Europa.
Confira a seguir a entrevista completa:
Esporte Interativo: A decisão de encerrar a temporada na França foi precipitada?
Bruno Mazziotti: Eu não acho que seja precipitado, não temos precedente na história do futebol atual com algo tão importante como essa pandemia. O que norteia as autoridades atualmente é a saúde da população, e o jogador faz parte dessa população. Se existe risco para esses atletas e quem trabalha com eles, a decisão de parar o campeonato é correta e cabe aos clubes aceitar a decisão e cria estratégias para a nova temporada.
EI: O PSG foi declarado campeão. A classificação final é justa?
BM: "Não sei como as regras são feitas. Acredito que os clubes foram consultados e a decisão foi baseada em vários fatores. PSG vinha fazendo um campeonato com larga vantagem de pontos, não contesta-se o título do clube. Mas eu não me sinto competente nem confortável para dizer algo diferente disso. Temos que respeitar a decisão que visa o bem de todos."
Estamos falando do campo desportivo, mas imaginemos que o campeonato tivesse recomeçado e um atleta viesse a óbito por conta da COVID-19? Lógico que alguns (clubes) vão ficar chateados, mas prefiro vir aqui falar do esporte e não de alguma perda de vida."
EI: Como funcionam os treinos à distância?
BM: "A premissa do treino físico é a individualização dos treinos. Em nenhum momento em anos anteriores, nenhum atleta ficou parado por mais de dois meses. Neste momento, o profissional da saúde, da área física e técnica, tem que se reinventar para descobrir qual a melhor estratégia utilizada.
A premissa que nos orientam nesse momento é cuidar da saúde do atleta como um todo: na questão mental, na qualidade do sono, em um controle de ansiedade. A partir disso, o nosso objetivo é individualizar o trabalho com esses atletas e ir monitorando. Temos uma programação feita junto com a preparação física e enviada para os jogadores.
O feedback deles é muito bom e temos uma condição muito privilegiada pois muitos dos nossos jogadores tem a condição de treinar em casa e isso facilita. Como isso vai ficar em alguns meses ou em alguns dias? Não sabemos. A partir da retomada das atividades, vamos começar a descobrir para mensurar de fato o que foi impacto na saúde fisica dos atletas e no desempenho.
A tecnologia nos dá possibilidades. Existe a chance de descobrir novas maneiras de monitorar esses atletas. Eles são profissionais, se o calendário ainda não acabou, tenha certeza que eles estão focados nos objetivos do clube. Eu tenho certeza disso. Temos atletas na França, na América do Sul, e temos que monitorar tudo isso."
EI: Muitos jogadores têm se machucado na volta aos treinos na Europa. Como o PSG pensa nessa questão?
BM: No PSG tivemos a possibilidade que todos os atletas saíssem para a quarentena sem lesões, e isso é um facilitador. Não temos como definir a condição de lesões nesse momento. Alguns clubes já encerraram suas atividades nos seus calendários. No caso do PSG, ainda temos a Champions League, não teríamos um número de jogos tão volumoso e isso nos ajuda. Os clubes que vão disputar a fase final dos campeonatos nacionais terão jogos condensados em um curto período. Ainda não temos uma data para retornar ao centro de treinamento.
EI: Alguns clubes saem na frente?
BM: A dinâmica é avaliar, entender o momento que estamos e traçar estratégias. Quanto tempo será necessário, vai depender do objetivo de cada clube. Já vemos agora o Dortmund com alguns desfalques, que têm a ver com condição física. O que não pode acontecer é o atleta se lesionar para a temporada seguinte. Qual clube leva vantagem, definitivamente não é possível saber, pois vai depender da demanda necessária e da capacidade dos atletas para o momento atual que eles vão apresentar no retorno.
EI: Existe uma estimativa do tempo necessário de preparação para voltar a jogar?
BM: Já estamos com dois meses de férias, o que normalmente é um mês. Devido às restrições, fazer treinos de intensidade moderada só pra manter a performance não é algo comum. Não dá pra saber qual o tempo necessário para voltar. Estou muito curioso para saber quais serão esses desdobramentos quando os atletas retornarem.
EI: O trabalho feito até a parada é perdido?
BM: Se o atleta se cuidou mais, certamente as perdas são menores. Atletas que não tiveram tanto cuidado, as perdas serão maiores e o tempo de recuperação também. Falamos sempre isso do bem-estar dos atletas, monitorando período de sono, estresse. Lembrando que existe uma recomendação das autoridades para que a gente não estresse o metabolismo dos indivíduos. Como não sabemos muito sobre a COVID-19, temos que nos preocupar com a saúde deles.
EI: Como está sendo a preparação de Neymar?
BM: "A equipe pessoal do Neymar trabalha alinhada com o PSG. Ele está ativo, porque eu sempre falo com o staff dele. O Neymar é um atleta que precisa estar de forma física muito bem alinhada. E é isso que a gente vê dele, ele tem todas as qualidades e não tem impedimento nenhum para apresentar uma performance."
Eu particularmente acho um atleta com um nível muito diferente, e sorte a nossa que ele joga no PSG. Ele vem mantendo uma rotina que é feita e alinhada com o PSG e com a equipe que trabalha com ele e isso vai facilitar o retorno. Ficamos na expectativa que todos os jogadores possam repetir o mesmo desempenho que estavam apresentando antes da parada."