Real Madrid 1 x 0 Liverpool. Do goleiro ao ponta-esquerda
Tão clichê quanto Madrid. Tão Real quanto o maior campeão de tudo e de Todos os tempos e campos.
Por Mauro Beting
Camisa pesa. Ainda mais contra outra pesada. Pesa porque tem história que começou na Europa em 1956. Na mesma Paris. No Parque dos Príncipes real. Como o Madrid dos sonhos em Saint-Denis. Demais do time que tem pacto com os diabos da bola e os deuses dos campos.
Vive de passado quem tem história. Quem tem é essa camisa branca contra um vice de futuro brilhante como o passado. Mas não tão luminoso quanto esse creme merengue de conquistas que faz da cidade-luz mesmo a de Valdebebas. A cidade esportiva do Real Madrid que começou essa história não foi hoje. E não acabará jamais.
Não são apenas os 90 minutos mais longos no Bernabéu a cada jogo. É a história e a hierarquia que ficaram cada vez mais longas e longe dos rivais nessa galáxia cada vez mais distante. Muito distante dos outros terráqueos da Europa e do mundo que aplaude (ou não consegue vaiar) o sinônimo de campeão: Real Madrid.
Se fosse qualquer outro rival e qualquer outro goleiro o defendendo, o megavice Liverpool teria conquistado no frio sábado de Saint-Denis o seu heptacampeonato europeu.
Mas pela frente, por trás, por todos os lados e cantos havia Courtois. O goleiro de incontáveis seis grandes defesas que há 8 anos na Luz viu tudo se apagar na escuridão aos 92min48s, na cabeçada da décima madridista de Sérgio Ramos. E levaria mais três gols o goleiro colchonero do então decacampeão dirigido pelo então tricampeão Ancelotti.
Agora se contaram 9 defesas no Stade de France. Neste século um goleiro de finale de Champions não foi tão acionado e acossado como o dique belga. Em todo o torneio em que perdeu 4 dos 13 jogos (o mesmo número de derrotas na temporada de monstruosas e cansativas 63 jornadas do Pool - sete a mais que o novo velho tetradecampeãp europeu), Courtois foi o goleiro que mais defesas fez no século. Superando o Cech campeão de 2012 pelo Chelsea. Insuperável nas históricas e histéricas classificações contra PSG, o próprio Chelsea, e o Manchester City que também superou na Premier League um dos melhores vices desde 1956.
Um Liverpool que mesmo mortinho da Silva e por Klopp só não conseguiu vencer a final da França por ter à frente quem não vê clube à frente dele em Madri, na Espanha, na Europa, na Terra e na galáxia merengue.
Não é um time qualquer este que é o melhor Liverpool da história, desde 2018. É que só não ganhou como o de Bob Paisley em 1977-78 e 1981 por enfrentar em Kiev e em Saint-Denis um clube que não é qualquer. Do goleiro belga ao ponta-esquerda de São Gonçalo. Da malvadeza de Vini à bondade de Courtois. Dos gols e assistências de Benzema à serenidade de Modric. Das seguranças de Casemiro e Militão. E até de Mendy fechando Salah e a casinha espanhola com Alaba. Abrindo Valverde à direta às costas de Robertson para fazer feder história nas costas quentes do imenso AA.
De tantos nomes campeões como só o de Marcelo ganhou mais pelo Madrid, na primeira final sem o hexa continental Gento.
Gente que ganha.
Como ninguém vence mais do que o Irreal Madrid que só precisou de três chances de gol (e uma mal anulada) para ser o que é. O que o Liverpool chutou 26 vezes, parou em Courtois em 8 lances de perigo, e outras incontáveis jogadas de brilho vermelho.
Foi enorme o Liverpool. Mas não foi o Real Madrid.
Ninguém é.
E será.